sábado, 28 de setembro de 2013

Entrevista

Entrevista com David Wang


O exímio artista e Conselheiro Municipal da Arte David Wang, conversou com a Revista Avante sobre suas obras, inspirações e processos criativos. Também, dá conselhos aos que querem entrar no mundo da arte. Para conhecer os trabalhos dele, acesse www.davidwangpen.blogspot.com.br/


Avante - Por que a escolha de New York como tema para sua nova série de quadros?
David - Tecnicamente falando, como a luz não incide diretamente lá, forma-se ângulos perfeitos para a pintura. Sobre o tema, escolhi New York pela nostalgia. Uma grande característica do meu trabalho é o foco, o porquê do quadro. Eu pinto diversos temas: animais, paisagens urbanas, figuras humanas... Mas sempre vejo o tema como ferramenta, algo que uso para me expressar. No entanto, o objetivo principal dos quadros é a emoção. Quando o quadro está exposto, quero que o observador sinta o que senti. Isso sim é minha grande satisfação, é o que defino como obra de arte.

Avante -  Como se alcança essa precisão quase fotográfica de suas pinturas?
David - Na pintura existe o realismo, o hiper-realismo, e o realismo moderno. Eu não me consideraria um realista, nem um hiper-realista. Tento expor em minhas telas o que enxergamos, então nem sempre, precisa ser algo minucioso. Nós vemos manchas, luzes, cores, espaços. Isso é uma interpretação da maneira como enxergamos. Costumo dizer que minhas pinturas são irracionais. Executando a obra, eu não vejo nada como figura. Faço enxertos como luz, sombra e cores. E é por isso que é irracional, por causar uma sensação. O pintor sempre tem seus truques, e precisa usá-los bem para fazer o espectador enxergar o que o pintor quer. Meus quadros, então, são vários efeitos ópticos, que aparentam ser de verdade, mas, não foram feitos com a intensão de ser um hiper-realismo.



Avante - Como dito antes, em muitos dos seus quadros percebe-se um vínculo com o realismo, contudo, em outros, o impressionismo é marcante. Como lida com esta dualidade?
David - Hoje, o mundo caminha para a visão abstrata das coisas, pois, após a máquina fotográfica, o mundo da arte mudou e se direcionou, também, para esse lado de efeitos visuais. Eu, já fui várias vezes, instigado a fazer obras abstratas. Porém, o verdadeiro abstrato é quando o artista entende muito bem do figurativo e começa a abstrair dentro da figura. E digo que ainda não cheguei no tempo. Mas sempre estou fazendo alguns ensaios dentro da minha pintura, algo do relativo ao abstrativo. Com o avanço da tecnologia, nós conseguimos um grande aprimoramento destes efeitos. A fotografia difundiu tanto, que todos, até crianças, tem acesso à máquinas digitais, e isso auxiliou a aproximar o meu trabalho a visão jovem, se eu pintasse há 40 anos, minhas pinturas seriam criticadas como algo artificial, pois é um subproduto da visão. Nossos olhos não enxergam, realmente, o rastro dos faróis do carro. Mas, com o auxílio da máquina, podemos convencer o espectador de que aquilo é real.


Avante - Quais são suas inspirações?
David - Quando eu era pequeno, eu tinha vários ídolos. Como os impressionistas, na minha adolescência. Daí eu percebi que eles estavam fazendo tudo tordo – risos –. Então, parti para os clássicos, e notei que eram muito toscos. Vindo então, aos neoclássicos, que tecnicamente falando, pode-se dizer que são os melhores da história da arte. 
Como inspiração, levo também a necessidade de expressar emoção, variável aos momentos, influenciando na produção. 

Avante - Há alguns desenhos, como aquele feito no Workshop sobre as profissões no colégio Universitário, que os executa espontaneamente, após o término desses, você faz alguma alteração?
David - No processo de produção existe o começo meio e fim. Então, antes de começar um trabalho, tenho um projeto, um planejamento, e depois vem a execução e a finalização. Quando se termina, o quadro tem que estar pronto. O artista pode acabar todos os processos, não se sentir satisfeito e refazer todos, mas não existe o “retoque”. A espontaneidade do quadro, nós artistas, chamamos de Atmosfera. É a velocidade, a força que se aplica a tinta na tela, manchas deixadas pelo carvão, traços despojados, como se fosse o ritmo da música. O mais importante do quadro, além da técnica, é a Atmosfera. Tem muita gente que pinta muito bem, senhores que executam perfeitamente, minuciosos e pacientes. Mas falta-los a Atmosfera.

Avante - Gostaria de acrescentar mais alguma coisa?

David - Acho importante despertar o lado artístico, principalmente agora, que vocês estão escolhendo ou já escolheram o futuro. “Será que eu posso ser artista? Como isso funciona?”. Hoje, a profissão do artista não é muito difundida. Eu sou Conselheiro Municipal de Arte em Londrina, e sei muito bem como está a situação da arte aqui. Uma situação caótica. Quem quer entrar nesse meio, deve pensar muito. Inserir a arte como profissão, e começar trabalhando com ela, no Brasil, ainda não existem condições. Para ser artista, você tem que ter uma profissão. Talvez a primeira ou a segunda. Você pode viver com arte, mas não de arte. Hoje eu vivo de arte, mas depois de 30 anos de luta. Não existe um mercado geral, existe mercado de cada artista, têm aqueles que vendem bastante e aqueles que não vendem nenhum, o mercado é individual. Jovens que sonham um dia, em se tornarem artistas, podem escolher uma profissão que tenha a ver, por exemplo, com a área de humanas, e, paralelamente executar sua arte. A grande vantagem do artista é que ele não aposenta, e é justamente o oposto, quanto mais velho, melhor.

Gustavo Minho






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