Meu encontro com Toquinho...e Vinícius
Abrí os olhos,
estava deitada na areia. Era uma praia, e eu nunca estive alí antes. Olhei em
volta e não reconhecí o lugar, muito lindo e familiar por sinal. Olhei pra cima
e ví uma das imagens mais bonitas, Jesus Cristo de Braços abertos. Enorme, ele
nos vigiava e cuidava. Estava no Rio De janeiro.Me sentei, descalça nas areias
da praia. Comecei a refletir, somente. Lembrando de momentos marcantes na minha
vida, aqueles que me fizeram chorar de tristeza ou alegria também. Quando sinto
uma mão tocar levemente meu ombro, olho para trás, e para minha surpresa vejo
Toquinho, com aquele sorriso encantador nos lábios. Ele trazia consigo seu
companheiro inseparável, o violão.
Admirada com tal presença pergunto o que fazia ele alí sozinho
aquela hora. Estaria também relembrando momentos da vida? E ele com um olhar
sincero, me disse:
-"O mar tem muito mistério,
A vida muito segredo.
O mar às vezes assusta
E a vida dá medo."
Sabe Katiuscia, se não enfrentarmos o medo nunca saíremos do
lugar.
Eu assustada pensei, como ele saberia meu nome?Mas não precisei
perguntar. Em seguida ele disse:
-O Poetinha fica tão feliz em ver gente tão jovem o venerando de
tal maneira, como você faz. Eu converso com ele sempre.
Mas como seria possível? Eu acordo, e vejo que estou no Rio de
Janeiro, encontro Toquinho me chamando pelo nome e dizendo que conversa com
Vinícius de Moraes?
Espantada, perguntei como ele fazia aquilo? Vinícius já não está
mais aqui.
E com uma gargalhada deliciosa ele me respondeu:
-A minha querida, vejo que está perdendo seu maior tesouro: seus
sonhos! Vamos, sonhe, voe alto!
Ele de repente se sentou em uma pedra e começou a tocar seu
violão, brilhantemente. A praia se encontrava estranhamente deserta aquele dia.
Estávamos somente eu e ele. Então cantou Aquarela, e no meio da música parou e
me pediu para continuar:
Eu então me preparei e continuei : "Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Branco navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul..."
Ele me olhou, piscou e continuou tocando, sorrindo como
sempre.
Não precisou dizer mais nada, eu havia entendido perfeitamente o
recado.
Quando a música acabou eu comentei que era completamente
apaixonada pela obra do Poetinha, e perguntei se eu também teria a oportunidade
de encontrá-lo.
Ele sorriu novamente e me disse que é só eu sentir. Sentir o mar à
nossa frente, sentir as flores, sentir o amor, amor esse que o Vininha(ele
mesmo disse assim) tanto falava. Mas sentir de verdade, com intensidade,
coração batendo forte e lágrimas nos olhos. Me beijou na testa sorriu para mim
pela última vez e saiu, seguindo o calçadão que havia próximo à praia.
Passei horas e horas alí, sentada na areia. Adormecí.
E no que foi o melhor dos meus sonhos, ví meu Poetinha bebendo seu
wisky e fumando seu cigarro. Declamando poemas, cantando Bossa Nova. Era mais
que um sonho, era real! Eu tinha tantas perguntas a fazer, tanta coisa pra
falar, que , na hora não pude dizer nada. Fiquei em silêncio observando cada
movimento que ele fazia. Cada detalhe. Cada palavra que ele disse. E ele falou
muito, por sinal.
Acordei, estava em minha cama. Novamente aqui, no Japão. Me
aprontei e fui trabalhar, pensando no melhor encontro que tive na vida!
Katiuscia Mizokami
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