quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Contexto

Meu encontro com Toquinho...e Vinícius



Abrí os olhos, estava deitada na areia. Era uma praia, e eu nunca estive alí antes. Olhei em volta e não reconhecí o lugar, muito lindo e familiar por sinal. Olhei pra cima e ví uma das imagens mais bonitas, Jesus Cristo de Braços abertos. Enorme, ele nos vigiava e cuidava. Estava no Rio De janeiro.Me sentei, descalça nas areias da praia. Comecei a refletir, somente. Lembrando de momentos marcantes na minha vida, aqueles que me fizeram chorar de tristeza ou alegria também. Quando sinto uma mão tocar levemente meu ombro, olho para trás, e para minha surpresa vejo Toquinho, com aquele sorriso encantador nos lábios. Ele trazia consigo seu companheiro inseparável, o violão. 

Admirada com tal presença pergunto o que fazia ele alí sozinho aquela hora. Estaria também relembrando momentos da vida? E ele com um olhar sincero, me disse:
-"O mar tem muito mistério,
A vida muito segredo.
O mar às vezes assusta
E a vida dá medo."
Sabe Katiuscia, se não enfrentarmos o medo nunca saíremos do lugar.
Eu assustada pensei, como ele saberia meu nome?Mas não precisei perguntar. Em seguida ele disse:
-O Poetinha fica tão feliz em ver gente tão jovem o venerando de tal maneira, como você faz. Eu converso com ele sempre.
Mas como seria possível? Eu acordo, e vejo que estou no Rio de Janeiro, encontro Toquinho me chamando pelo nome e dizendo que conversa com Vinícius de Moraes?
Espantada, perguntei como ele fazia aquilo? Vinícius já não está mais aqui.
E com uma gargalhada deliciosa ele me respondeu:
-A minha querida, vejo que está perdendo seu maior tesouro: seus sonhos! Vamos, sonhe, voe alto!
Ele de repente se sentou em uma pedra e começou a tocar seu violão, brilhantemente. A praia se encontrava estranhamente deserta aquele dia. Estávamos somente eu e ele. Então cantou Aquarela, e no meio da música parou e me pediu para continuar:
Eu então me preparei e continuei : "Vai voando
Contornando a imensa
Curva Norte e Sul
Vou com ela
Viajando Havaí
Pequim ou Istambul
Pinto um barco a vela
Branco navegando
É tanto céu e mar
Num beijo azul..."

Ele me olhou, piscou e continuou tocando, sorrindo como sempre. 
Não precisou dizer mais nada, eu havia entendido perfeitamente o recado.
Quando a música acabou eu comentei que era completamente apaixonada pela obra do Poetinha, e perguntei se eu também teria a oportunidade de encontrá-lo.
Ele sorriu novamente e me disse que é só eu sentir. Sentir o mar à nossa frente, sentir as flores, sentir o amor, amor esse que o Vininha(ele mesmo disse assim) tanto falava. Mas sentir de verdade, com intensidade, coração batendo forte e lágrimas nos olhos. Me beijou na testa sorriu para mim pela última vez e saiu, seguindo o calçadão que havia próximo à praia.

Passei horas e horas alí, sentada na areia. Adormecí.
E no que foi o melhor dos meus sonhos, ví meu Poetinha bebendo seu wisky e fumando seu cigarro. Declamando poemas, cantando Bossa Nova. Era mais que um sonho, era real! Eu tinha tantas perguntas a fazer, tanta coisa pra falar, que , na hora não pude dizer nada. Fiquei em silêncio observando cada movimento que ele fazia. Cada detalhe. Cada palavra que ele disse. E ele falou muito, por sinal.

Acordei, estava em minha cama. Novamente aqui, no Japão. Me aprontei e fui trabalhar, pensando no melhor encontro que tive na vida!

Katiuscia Mizokami

Nenhum comentário:

Postar um comentário