segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A RUA COMO MEIO DE EXPRESSÃO DA ARTE

Os artistas de rua fazem parte da nossa cultura e de muitos países, e são eles que amenizam a correria e o estresse em suas apresentações divertidas



    Todos os dias, seja nos calçadões, nas ruas, nos semáforos de qualquer cidade, somos pegos de surpresa por uma apresentação, por movimentos, por roupas coloridas e instrumentos que nos chamam a atenção e nos fazem ficar fixos e admirados por tanta habilidade e carisma. Falo aqui dos vários artistas de rua que circulam as cidades de todo o mundo e que, como qualquer outro trabalho, é digno e deve ser constantemente respeitado.

“A arte é essencial para as crianças”
  
   Os artistas de rua vivem para mostrar suas artes, suas habilidades e sua alegria, e são várias histórias que circulam por nossas ruas. Carlos Solé, de 45 anos, Ribeirão Preto, interior de São Paulo, se forma este ano no curso profissionalizante na Escola de Circo de Londrina - PR, que possui quatro anos para sua conclusão e que conta com uma equipe de sete professores. Começou a quinze anos, no início das chamadas festas Trance, “Raves”, na parte de montagem de cenários. “Nesta época eu já tinha esse link com malabarismo, na Europa já era assim nas festas raves, o pessoal joga malabarismo, é bem comum, e veio pra cá também esse link com malabarismo “né”. Aí eu vi umas pessoas, comecei a me interessar. Comecei de curiosidade a jogar e jogar e comecei a gostar cada vez mais, me apaixonar, treinar, treinar, comecei até fazer showzinho dentro das festas que eu montava, me davam um espaço (...). Nesta época eu conheci um produtor, começou a namorar uma brasileira, começou a vir para o Brasil, conheceu o meu patrão na época e gostou muito de mim, do meu trabalho e tal, me deu a chance de ir pra lá “né”, eu fui pra lá, morei três anos e aí fui me especializando cada vez mais (...)”, ressalta.   Carlos conta que quando começou foi muito autodidata, mas que somente 10 anos depois foi cair em uma escola profissionalizante, aqui em Londrina.

    Carlos se apresentou muito nos semáforos das ruas, mas que hoje se apresenta pouco, por conta da formatura do curso na escola de circo e das aulas que também oferece, porém garante que o trabalho possui um bom retorno e que começou por conta disso. “Por já ter a habilidade, ter essa paixão por malabarismo, ai “pô” como é que eu faço para poder seguir minha vida podendo jogar malabares, aí começa a experimentar, oh dá dinheiro. Mas também não deixa de ser um laboratório para experimentar coisas novas”, disse.

    Informa que sua preferência é a arte nas ruas por ter uma magia muito legal que é o da surpresa, além do uso da improvisação, que é bem maior. No curso, Carlos aprende apresentações em palcos, e garante que é difícil passar a arte das ruas para um cenário já planejado. “Às vezes o que você faz na rua e quer transferir para o palco, é bem diferente, você já tem uma base, já é um passo adiante porque tem que transpor aqui, já é um caminho andado, mas muda muito, é iluminação, é a música. Na rua você tem essa liberdade um pouco maior “né”, se quiser prolongar um pouco. Já o palco é mais limitado, apesar de existir um pouco de improvisação também”, relata.

    Por conta das crianças, que se encantam facilmente com esses tipos de apresentação e que estão em grande peso nas aulas de circo da Escola, Carlos afirma ser essencial a arte desde pequenos, e que crianças é o grupo em que mais gosta de trabalhar. Este tipo de arte é claro que não agrada a todos, e também não é qualquer tipo de arte que vai receber elogios e atenção do público. “Tem gente que detesta, não só espetáculo de rua como o de palco, tem gente que eu já ouvi mesmo falar assim que é coisa de vagabundo, aprendeu na cadeia, e não está nem falando de um espetáculo de rua, está falando de um circo mesmo”, declara Carlos.

    Entretanto, Solé, se sente muito realizado com o trabalho e a conclusão do curso, mesmo por ter sido para ele um desafio, começando com 41 anos e concluindo com 45, sendo que o perfil dos alunos é de quinze anos.
E esse sentimento de realização também ocorre com Adriano Gouvella, 26 anos, Londrina – PR, estudante de Artes Cênicas na UEL (Universidade Estadual de Londrina) e com Gerson Bernardes, 27 anos, Ribeirão Preto-SP, membro do grupo Triolé Cultural de Londrina.       

Adriano Gouvella, estudante de Artes Cênicas na UEL (Universidade Estadual de Londrina)

    
    Adriano começou este trabalho para a conclusão do curso com sua pesquisa voltada para o claus, o palhaço. “Eu comecei fazendo algumas oficinas com outros mestres, artistas claus daqui do Brasil e me interessei por essa linhagem de trabalho e fui pesquisar a fundo para desenvolver o meu trabalho de conclusão. E esses números, que eu estou apresentando aqui no calçadão, é na verdade pra testar, pra ver o que funciona, o que não funciona, porque eu ensaio durante a semana, pesquiso em sala, em laboratório e depois venho aqui no calçadão para testar com o público”, disse.
Já Gerson começou este trabalho em 2009, mas já vinha fazendo teatro desde criança em escolas regulares e depois em grupos amadores. Está no Triolé Cultural desde o início, em 2010. O objetivo é trabalhar, fomentar, proporcionar arte nos mais diversos espaços, nas mais diversas formas. Temos apresentações de espetáculo de palhaço de rua ou para espaço fechado e contação de histórias”, relata.
"Falta o público ter acesso a esta arte”

    Com todas as apresentações e os estudos, para Adriano o trabalho é cansativo sim “Cansativo é, como todo trabalho” afirma. Ambos participam do Movimento de Artistas de Rua de Londrina (MARL), Adriano desde a criação do movimento, e o grupo Triolé, apesar de um pouco afastados, desde o início participam e acompanham o movimento. “O movimento surgiu inicialmente da insatisfação de alguns grupos de teatro da cidade com a falta de cuidado para com o espaço público, além do cerceamento do direito de se ter apresentações ao ar livre de maneira gratuita, com cobrança por parte do poder público municipal”, ressalta Gerson.
    Seguindo a linha sobre a valorização do público para essas artes, eles acreditam sim serem valorizadas, contudo para Gerson. “Acredito que falta o público ter acesso a arte”, disse.
A visão do público
    Existem diversas opiniões, principalmente sobre um tema como este. Para Clarice de Oliveira de Lima, 47 anos, o trabalho dos artistas de rua é muito importante. “Acho bonito, acho que eles alegram o trânsito, você se distrai vendo, acho muito importante sim”, afirma.
    E quando o assunto é contribuição, a estudante de agronomia Letícia Ariadne, 17 anos, diz ajudar os artistas quando possível. “Pois acho o trabalho que eles exercem bonito e trabalhoso, e por isso eles merecem receber prestígio e respeito das pessoas”, declara.
    Entretanto, não é todos que conseguem exercer uma profissão desta, Marta Machado, 44 anos, diz também achar que a arte nas ruas é importante apesar de haver um pouco de irritação por conta da correria e do estresse do trânsito, mas que a maioria das vezes são muito bonitas as apresentações, pois relaxa e acalma. Entretanto, não conseguiria passar por uma experiência desta, em ser um artista de rua. “Não, eu acredito que não conseguiria, eu acho muito difícil, e acho que a pessoa já nasce com o dom de artista, e eu nunca tentei fazer algo assim de diferente, então eu particularmente não conseguiria”, afirmou.
    Na visão da estudante de Artes Cênicas na UEL, Letícia Moura de Oliveira, 17 anos, assim como para os outros entrevistados, o trabalho dos artistas de rua é sim de grande importância para a sociedade. “Qualquer atividade cultural é de suma importância para a nossa sociedade. A arte de rua é um meio de se expressar usando alguma manifestação artística que atinge um grande número de pessoas, independente de sua classe social. É uma arte livre, independente, não há marginalização social no quesito cultural. Além de bonito, esteticamente falando, é de uma beleza cultural, política e emocional”, declara.
    Letícia escolheu artes cênicas por um primeiro contato com o teatro, que foi sua paixão a primeira vista, e diz que ainda é muito cedo para dizer qual ramo pretende seguir. “Acredito que esteja muito cedo para escolher qual ramo seguir, a artes cênicas, é um ramo muito amplo, como estudante quero experimentar essas várias vertentes e não escolher apenas uma para fazer, acredito que me privando de outros ramos me fará uma artista medíocre, acho válido e interessante saber incorporar vários elementos, por isso acredito que não seguiria apenas uma área, seguiria a arte como um todo”, disse.
    A arte são manifestações que emitem ideias e emoções, e que de qualquer forma estará presente em nosso meio, em nossa sociedade, pois ela está ligada a liberdade, sendo nas ruas, a de se expressar.

Matéria de: Amanda Machado

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