Assistir, transitivo indireto. Iludir, transitivo direto.
O sol crepitava no chão e no ar,
assim como em todos os corpos de outubro. Tão quente que lufadas febris se
depreendem de todos os lugares expostos a ele, ou mesmo dos ambientes não
refrigerados artificialmente. Contudo, ela está lá, no início da escada de
poucos degraus, ao lado daquela rampa imensa, ambas desembocando na porta
vítrea de um renomado Banco em Londrina. Aquela, cada vez que aberta, libera um
suspiro gélido que escorre como um segundo de alívio, porém logo o equilíbrio
se desloca novamente para esquerda na intensidade total do aquecimento.
O foco textual, entretanto, não
se prende nisso, mas sim, apesar da extremidade do calor, aquela senhora,
sentada no início da escada, é invisível. O fluxo de clientes nunca para,
contínuo e inesgotável, no entanto, preferem a rampa que prolonga as gotas de
suor, mas é segura, à rápida escada “poluída”. Poluída pela representação da
desigualdade, pelo estorvo de fazê-lo elaborar desculpas para sair do banco sem
dinheiro, por quebrar a ironia do “American Dream”. Aos que arriscam a descida
mais curta, normalmente estabelecem o descaso explícito, a degradação
representada com exímio, e ignoram aquilo diante de seus olhos, que neste caso
nunca se abaixam, matem-se fixos à frente retilineamente cegos.
Gustavo Minho
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