sábado, 5 de outubro de 2013

Pessoas invisíveis

Assistir, transitivo indireto. Iludir, transitivo direto.



O sol crepitava no chão e no ar, assim como em todos os corpos de outubro. Tão quente que lufadas febris se depreendem de todos os lugares expostos a ele, ou mesmo dos ambientes não refrigerados artificialmente. Contudo, ela está lá, no início da escada de poucos degraus, ao lado daquela rampa imensa, ambas desembocando na porta vítrea de um renomado Banco em Londrina. Aquela, cada vez que aberta, libera um suspiro gélido que escorre como um segundo de alívio, porém logo o equilíbrio se desloca novamente para esquerda na intensidade total do aquecimento.


O foco textual, entretanto, não se prende nisso, mas sim, apesar da extremidade do calor, aquela senhora, sentada no início da escada, é invisível. O fluxo de clientes nunca para, contínuo e inesgotável, no entanto, preferem a rampa que prolonga as gotas de suor, mas é segura, à rápida escada “poluída”. Poluída pela representação da desigualdade, pelo estorvo de fazê-lo elaborar desculpas para sair do banco sem dinheiro, por quebrar a ironia do “American Dream”. Aos que arriscam a descida mais curta, normalmente estabelecem o descaso explícito, a degradação representada com exímio, e ignoram aquilo diante de seus olhos, que neste caso nunca se abaixam, matem-se fixos à frente retilineamente cegos.

Gustavo Minho

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