O
cigarro tem seus efeitos maléficos, mas isso não impede que boa parte da
população esteja presa a ele.
O cigarro hoje, apesar de pesquisas apontarem uma
diminuição na quantidade de fumantes, está presente na vida de muitos
brasileiros, viciados no denominado por eles, “remedinho”. Segundo a Pesquisa Especial
de Tabagismo (Petab), realizada pelo IBGE em 2008, cerca de 24,6 milhões de
pessoas se declararam fumantes, o que corresponde a 17,2% da população brasileira
com mais de quinze anos. O interessante é que apesar deste número ter diminuído
até o ano de 2013, os problemas ainda continuam e até mesmo a falta de
conscientização por parte dos viciados.
A pneumologista Ana Tereza Ramiro Muzio, trabalha a cerca
de quinze anos na área e conta sobre alguns detalhes importantes a respeito do
assunto. Segundo ela, o tabagismo representa um vício e que todos os dias
atende pacientes fumantes. “Todos os dias atendo
pacientes fumantes com doenças respiratórias causadas pelo cigarro: bronquite,
enfisema, tosse crônica. Chego a atender ao mês até 100 pessoas com doenças
causadas direta ou indiretamente pelo uso do cigarro.”, afirma.
Ana também relata que no Brasil,
aproximadamente 130.000 mortes por ano são causadas pelo cigarro, e no mundo,
chega a 6 milhões. De acordo com a pneumologista, quando uma pessoa é detectada
com câncer de pulmão, muitas vezes já se encontra em fase avançada, em estado
grave, havendo assim poucas possibilidades de cirurgias e tratamento curativo. No entanto, aponta Muzio, que os riscos vão diminuindo quando se para de fumar.
“Os riscos de doenças cardíacas e pulmonares vai diminuindo após cessar o
tabagismo. Porém se a pessoa já tiver adquirido alguma doença como DPOC (Doença
Pulmonar Obstrutiva Crônica), Câncer ou doenças cardíacas, muitas vezes os danos
são irreversíveis mesmo cessando o tabagismo.”, declara.
Relata que quando um paciente descobre
que tem câncer de pulmão, o susto é grande. “No geral, sempre este diagnóstico
representa um grande susto, com reação inesperada de desespero, e muitos até
após o diagnóstico, param de fumar, onde na maioria das vezes, tarde demais,
pois a doença já esta instalada e muitas vezes sem cura”.
Cristhiane de Almeida Mitsi, de 35 anos,
trabalhou na Saúde Pública de 2010 a 2011, no NASF (Núcleo de Apoio à Saúde da
Família), retornando as atividades este mês no Posto de Saúde Central,
Londrina, PR. Realiza um programa federal com apoio do INCA (Instituto Nacional
do Câncer), que tem por objetivo a cessação do comportamento de fumar, projeto
este denominado Controle do Tabagismo. O programa não funciona por ainda não
possuir um grupo, porém estão caminhando para montar um. Mitsi conta que o
programa possui financiamento público. “O programa é federal e recebemos uma
capacitação para poder atuar como coordenadores do programa na Unidade de
Saúde. O programa tem financiamento público sim. Mas não sei dizer em termos de
números.”, afirma.
Declara que a divulgação do programa é
feita por cartazes, mas principalmente pelo encaminhamento de profissionais na Unidade
de Saúde dos pacientes tabagistas. “Os encontros têm participação de equipe
multiprofissional. E é possível prescrição de medicamentos se for o caso.
Medicamentos específicos do programa que são prescritos exclusivamente para
pessoas que participam do grupo e avaliadas pelo médico capacitado.”. destaca.
Cristhiane acredita sim que o programa
terá bom resultado. “Acredito, pois nos grupos que desenvolvi em outra Unidade
de Saúde no período anterior em que trabalhei na rede, tivemos sucesso. Alguns
pacientes pararam de fumar. Meu último grupo que foi em 2011, ainda tenho
contato com alguns dos participantes, e sei que continuam sem fumar. Inclusive
um dos participantes que não tinha conseguido parar, entrou em contato comigo
esse ano, via internet, para me contar que havia parado de fumar. O vínculo
criado nesse grupo foi muito importante para a manutenção. Não só o vínculo
comigo, mas entre eles, que se falam até hoje também.”, disse.
Um bom exemplo de força de vontade e
persistência é a ex-fumante Célia Aparecida de Oliveira Geroldi, 55. Célia
fumou por 20 anos devido ao estresse e pelo fato do cigarro acalmar, e conta
por qual motivou resolveu parar. “Tive problemas respiratórios, muito cansaço,
não tinha fôlego para caminhar por muito tempo, nem rápido. Tudo isso por causa
do cigarro.”, relata.
Afirma que foi difícil
resistir ao cigarro, onde fumava cerca de 3 cartelas por dia, mas que hoje
resiste. “Venho resistindo há uns 11 anos, não tive mais recaídas, vejo pessoas
fumando próximo a mim mas quase não me incomoda o suficiente para querer fumar,
só quando estou muito estressada que a vontade de fumar aumenta, mais o medo
dos problemas voltarem é maior.”, declarou.
Célia ressalta que para parar de fumar,
teve muita fé em Deus e muita força de vontade. “Cheguei em um estado que o
médico disse ou para ou você morre, a falta de ar era muita, a família ajudou
muito também, dando apoio.”, disse.
O outro lado
O grande problema, é que boa parte da
população fumante não possui conhecimento destes programas. Os fumantes ainda
são muitos, hoje independente da idade, e relatam um pouco sobre a situação.
Marta Machado, é fumante há 17 anos e diz ter começado por influência do
marido. “Sim tive influência do meu marido que fumava e fuma até
hoje, e sempre que a gente tava junto, tomando uma cervejinha ou um cafezinho ele
fumava e com isso eu comecei a pegar só de bobeira. Aí ele começou a me zoar
que eu não sabia fumar. Um belo dia, comprei um maço e fiquei fumando até
aprender a tragar. Foi a pior coisa que fiz na minha vida, desde então não
consegui parar mais.”, afirma.
Marta diz adorar fumar, pois o cigarro se tornou um
companheiro, tanto nos momentos tristes como nos alegres, mas que se sente
muito arrependida, destacando que tem coisas que a gente jamais deve começar. “Todo
fumante pretende parar um dia, o problema é conseguir. Já tentei algumas vezes
por conta, sem ajuda, mas não consegui. Um dia quem sabe procuro ajuda e vou
conseguir da forma correta, mas pretendo sim parar de fumar.”, relata.
“... acho que o fumante é um suicida.”
Já Marcos Machado, 55, fuma a mais ou menos 35 anos, mas
diz que já ficou 6 anos sem fumar. Conta que não sabe o motivo pelo qual
começou, mas que aprendeu a fumar já com 8 ou 9 anos de idade, e que hoje não
gosta de fumar, ultimamente fuma somente por vício. “Gostaria muito de parar,
já tentei, mas é muito difícil. Me arrependo de ter conseguido parar por
diversas vezes e ter voltado.”.
Marcos e Marta são casados há 27 anos, e ambos possuem o
mesmo medo, os riscos que o cigarro causa à saúde. “Tenho muito medo, principalmente
enfisema pulmonar.”, relata Marcos. Também sentem a mesma pressão por parte dos
familiares. “Sou de uma família de oito irmãos. Vários sobrinhos e duas filhas,
onde ninguém fuma só eu e meu marido. Sofremos muito com isso, sem contar que a
gente sente mal, de estar em um ambiente onde ninguém fuma, só nós dois
procurando um canto pra poder satisfazer nosso vício.”, afirma Marta.
Natália Machado filha mais velha do casal, 25, conta por
quais motivos se sente incomodada pelo cigarro. “Meu pai fuma desde que eu era criança então não
tenho recordação dele sem o cigarro. Já minha mãe começou a fumar depois que eu
nasci e parou por um tempo quando estava grávida da minha irmã, mas ambos fumam
hoje em dia. Me sentia mais incomodada com o odor do cigarro quando era
criança, acho que com o tempo fui acostumando e hoje quase não sinto. Mas a
fumaça me incomoda muito, principalmente pelos meus pais fumarem perto de mim e
de minha irmã, em ambientes fechados, não há respeito da parte deles.”.
reclama.
Natália conta
que a pressão é grande sobre os pais, principalmente para alertá-los dos riscos
e afirma que tudo em exagero mata. “Acho que tudo em exagero nos mata seja o
cigarro ou mesmo bebida alcoólica. O problema do cigarro é que o consumo é
diário e em grande quantidade, ou seja, acho que o fumante é um suicida.”.
declara.
Sobre a questão dos fumantes passivos, a pneumologista
comenta. “O tabagista passivo também sofre os efeitos maléficos
do cigarro, com risco aumentado de doenças pulmonares, cardíaca e câncer. Em
gestantes que fumam aumenta risco de aborto. Filhos de pais fumantes tem mais
problemas respiratórios.”, afirma.
Tabagismo em qualquer idade
Como dito,
hoje há fumantes de qualquer idade, e Lucas Popolin, 22, é um exemplo de um deles.
Ele fuma a cerca de 6 anos e conta como começou. “Eu comecei na brincadeira,
naquela curiosidade de saber como é e tal. O que aconteceu foi que acabei
gostando da sensação e do prazer que dava, ele acabava diminuindo a ansiedade,
na época estava com 16 anos e estava naquela fase rebelde, então nunca me
passou pela cabeça as consequências da minha ação. Houve influência na questão
de amigos que fumavam, mas eles nunca me ofereceram porque sabia que não se
tratava de boa coisa. Eu comecei por mim mesmo e a influência que teve
respondendo objetivamente posso dizer que foi a curiosidade mesmo.”, disse.
Lucas ressalta
que não gosta de fumar, não gosta do cheiro que fica na roupa, no cabelo, na
pele, e que sua dependência é por questões hereditárias que estão envolvidas e
que é o tipo de pessoa que deve se policiar com substâncias que geram
dependência, destacando que nunca usou drogas. Afirma que se sente arrependido
de ter começado, pois o vício é terrível. “Eu sempre estou tentando parar,
desde o começo, sempre fiz vários tratamentos para deter o vício, mas foi em
vão. O que acontece comigo tem relação com minha ansiedade, eu tenho um tipo de
ansiedade passível de tratamento médico, então o cigarro atua como o remédio
deveria, eu não tomo mais os medicamentos para ansiedade, pois é tarja preta e
os efeitos colaterais são muito fortes, então acabo descontando no cigarro.”
"Filhos de pais fumantes tem mais problemas respiratórios.”
Ressalta
que pretende parar e que daqui a um mês estará fazendo um tratamento com
medicamentos que reduzem a ansiedade. “... tendo em vista que o meu vicio de
fumar está intimamente ligado com o problema de ansiedade, não só pela questão
da dependência que o cigarro causa.”.
Lucas diz
sentir pressão por parte da família, mas que, no entanto nunca o julgaram. “Sinto
muita pressão por parte da minha família, eles estão sempre dispostos a me
ajudar, mas nunca me condenaram e nem me julgaram pelo vício. Sempre que entro
em alguma tentativa para parar eles estão sempre prontos para me dar à ajuda
necessária.”, afirma.
Diante de tantas situações como essa, os
métodos apontado por Ana Muzio para cessar o uso de cigarro, são muitos e até
mesmo conhecidos pela população fumante. “Existem o uso de medicamentos
específicos, em forma de comprimidos, adesivos ou gomas. Além do que o acompanhamento
psicológico com equipe multidisciplinar e orientação quanto aos hábitos de vida
saudáveis, alimentares e prática de exercícios.”, declara.
O ato de fumar, é extremamente
prejudicial à saúde, como também não deve ser deixado de lado à questão do meio
ambiente. É fato que muitos fumantes de plantão ainda não se conscientizaram e
continuam jogando as butucas de cigarro nas ruas, deixando-as poluídas. O vício
é difícil, parar é difícil, mas não se pode deixar estragar a vida e também o
ambiente em que vivemos.